REABILITAÇÃO (12/4/2009)
Para tratar o AVC
Toxina Botulínica: a opção é aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e fora do Brasil também é usado não só para vítimas de derrame, mas crianças com paralisia cerebral, pessoas com lesão medular (Foto: DIVULGAÇÃO)
Com seqüelas físicas e psicológicas, vítimas do AVC podem se tratar com toxina botulínicaAos 44 anos, Francisco Tadeu Ricci sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e teve seus movimentos do lado direito do corpo totalmente paralisados. Por se tratar de uma situação que compromete fortemente os movimentos, Tadeu deixou de praticar atividades do dia-a-dia e teve sérios problemas, inclusive de fala. Seu único modo de locomoção foi por meio da cadeira de rodas, mesmo que para realizar pequenos percursos dentro de casa, como ir ao banheiro.Doença cada vez mais comum na atualidade, o AVC se manifesta com fraqueza em um dos membros (braço, perna); distúrbios visuais com uma sensação de ´sombra´´ ou ´cortina´ ao enxergar ou ainda pode apresentar cegueira transitória; perda sensitiva, com dormência no corpo; alterações de linguagem, assim alguns pacientes apresentam fala curta e com esforço, acarretando muita frustração e, em alguns casos, convulsões.Os pacientes com AVC também podem apresentar um aumento do tônus muscular e uma rigidez excessiva de contração dos músculos, causados por uma condição neurológica anormal. Chamada de espasticidade, ou de hipertrofia espástica, a doença causa uma confusão nos movimentos. ´Os músculos recebem sinais inadequados que os fazem se contrair quando deveriam relaxar. Os sintomas variam desde uma leve contração até uma deformidade severa, que afeta a mobilidade e a qualidade de vida dos pacientes´, justifica a Dra. Fernanda Maia, neurologista do Hospital Geral de Fortaleza e do Monte Klinikum.O problema também é que a doença não traz apenas malefícios físicos, como os citados. Afinal, o prejuízo à coordenação motora do paciente vem, em grande parte das vezes, associado a problemas psicológicos, como a diminuição da auto-estima e a depressão.TratamentoApós um período de depressão, Tadeu Ricci começou a fazer tratamento médico com aplicações da toxina botulínica tipo A, cuja marca mais popular é o botox. Em menos de um mês, ele já apresentava uma melhora significativa, com a volta de alguns movimentos. ´Foi difícil passar pelo que passei, mas aos poucos estou voltando à vida normal´.Após a terceira sessão de aplicação, Tadeu teve um salto em sua qualidade de vida: voltou a escrever e hoje dedica boa parte de seu tempo à produção de um livro de poesias. Segundo o Dr. Cristiano Milano, neurologista, ´a toxina botulínica ajudou de diversas formas: na parte motora, nas dores, na contratura muscular, na recuperação das funções e principalmente na auto-estima de Tadeu´, finaliza.Dentro do contexto da reabilitação de pessoas que tiveram o trauma e desenvolveram seqüelas motoras - situação bastante comum - um dos tratamentos que contribuem com a qualidade de vida tem sido a aplicação de toxina botulínica (cuja marca mais conhecida é o botox) no músculo comprometido. A opção é aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e fora do Brasil é usada não só para vítimas de derrame, mas crianças com paralisia cerebral, pessoas que tiveram lesão medular etc.Apesar do alto custo, o serviço é custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e coberto por planos de saúde particulares. No entanto, muitos pessoas não chegam ao tratamento por falta de informações. Para se ter uma idéia, no Ceará já é possível lançar mão da novidade, conforme explica a Dra. Fernanda Maia.´O uso da toxina botulínica no AVC se dá após estabelecido o déficit neurológico, quando há excesso de contração muscular (espasticidade) que esteja atrapalhando a vida do paciente ou a sua higiene´. Porém, segundo ela, é importante destacar que botox é uma marca de toxina botulínica e não o nome do procedimento. ´No Brasil, existem outras duas marcas aprovadas pela Anvisa´, diz.De acordo com Fernanda Maia, no entanto, antes da aplicação, o paciente deverá ser avaliado por médico neurologista ou fisiatra. Uma vez detectada indicação para o tratamento com a toxina, a neurologista explica que o paciente é então encaminhado para o Hospital das Clínicas – Faculdade de Medicina de São Paulo ou para o Hospital Geral de Fortaleza para aplicação.Segundo a neurologista, as contra-indicações para o uso de toxina bolulínica em pacientes com AVC são poucas e se restringem àqueles com alergia à toxina. ´Pacientes com determinadas doenças concomitantes (como esclerose lateral amiotrófica ou miastenia gravis) deverão ter cuidados especiais. O uso em mulheres grávidas é contra-indicado e, caso esteja com alguma infecção, a aplicação geralmente é adiada para um segundo momento´.Fernanda acrescenta ainda que após a aplicação, no caso de AVC, não há necessidade de cuidados especiais, porém o médico responsável pelo tratamento deverá ser avisado sobre quaisquer sintomas inesperados, pois podem significar excesso do efeito da toxina. O tratamento de reabilitação é multidisciplinar, por isso o paciente deve continuar freqüentando as sessões de fisioterapia que são essenciais para um melhor efeito da medicação. ´Não há idade mínima ou máxima para aplicar, o que varia é a dose que será aplicada, a qual é devidamente calculada pelo médico´.Conforme detalha Fernanda Maia, a toxina se torna importante para o controle do músculo, pois uma das formas de diminuir seria através do bloqueio dessa contração. ´A toxina botulínica age justamente nesse mecanismo´. Como disse, após injetada, a toxina se liga nas células nervosas próximas ao músculo, impedindo a liberação da acetilcolina, que é a substância que desencadeia a contração muscular.´Esse bloqueio permanece até que o neurônio, célula nervosa, consiga se recuperar. É por isso que há necessidade de novas aplicações. É importante termos em mente que o objetivo do médico não é de paralisar totalmente o músculo, mas relaxá-lo´, conta. A neurologista comenta que é preciso repetir a aplicação em intervalos que variam de três a seis meses. No caso do derrame, em que há espasticidade, geralmente é feito a cada seis meses, mas varia conforme o paciente. ´Aplicada diretamente nos músculos, a toxina provoca um relaxamento e bloqueia a atividade motora involuntária, o que reduz a dor e aumenta a amplitude de movimento dos pacientes necessário em todas as etapas´.FIQUE POR DENTROAVC provoca diminuição de funções neurológicasPopularmente conhecido por derrame cerebral, o AVC é uma doença caracterizada pelo início agudo de um déficit neurológico (diminuição da função) que persiste por pelo menos 24 horas, refletindo envolvimento focal do sistema nervoso central como resultado de um distúrbio na circulação cerebral; começa abruptamente, sendo o déficit neurológico máximo no seu início podendo progredir ao longo do tempo.O Acidente Vascular Cerebral pode ser divido em duas categorias: isquêmico e hemorrágico. No primeiro, há a oclusão de um vaso sangüíneo que interrompe o fluxo de sangue a uma região específica do cérebro, interferindo com as funções neurológicas dependentes daquela região afetada, produzindo déficits. Já o hemorrágico, consiste no sangramento local, com outros fatores complicadores tais como aumento da pressão intracraniana, edema (inchaço) cerebral, entre outros, levando a sinais nem sempre focais.No geral, os fatores de risco da doença são descritos e estão comprovados na origem do acidente vascular cerebral, entre eles: a hipertensão arterial, doença cardíaca, fibrilação atrial, diabete, tabagismo, hiperlipidemia. Outros fatores que são o uso de pílulas anticoncepcionais, a ingestão álcool, ou outras doenças que acarretem aumento no estado de coagulabilidade (coagulação do sangue) do indivíduo.APLICAÇÕES3 a seis meses é o intervalo de tempo que deve ser aplicada uma nova dose de toxina botulínica para o tratamento de vítimas de AVC
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
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